segunda-feira, 30 de julho de 2012

Escarro da Noite

Deitou-se defronte ao meu corpo nu, como quem guardava em seu íntimo, algo a ser revelado. O som que se ouvia era apenas o silvo do vento ao longe. O ladrar caía mudo aos meus ouvidos. Nem o ronronar cá ardia. Venerei-a pelos segundos que corriam com seu bafo à minha face. E os segundos iam, e iam. Nada, cá, se instalava. Tudo ia, mudava, transformava; ao bel-prazer de quem, perguntaram-me. E que importa? É assim, balbuciei afirmando. Mas se não lhe convenço, pois, então, digo-lhe; ao bel-prazer do acaso. Esse deus sem alma, frio. Ah! – pestanejo. Deite-se, e deleite-se de meu corpo nu, exposto a ferida. E a dor, que ruína-me latejando. Deite-se. Clamo, querida! Querida minha! Minha mina, meu cálice d`um rubro efervescente! À beira da cama, comigo teso, suspiro. A noite lança seu último escarro ao decrépito, e desse decrépito, faço-me, e afago-me, jaz flácido, definhando.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Aos russos, ausento-me.
De minha pequenez, sonolência ao leito
Repouso, cofiando a metafísica.
Essa que deveras dana-me
a narração que empobreço.

sábado, 31 de março de 2012

Outono Meu

O vinho a meia taça
Vivaldi em seu outono
O frio que adentra pela janela
entreaberta, descortinada
Faz que a escuridão traga luz às miúdas palavras
que escrevo.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Infinda vaguidão

Dizem vir de Sócrates a máxima
"Sei que nada sei"
Desconfio. Pode até ser
Mas nada afirmo.

Ando em dívida comigo mesmo
Co`a leitura co`a boa conversa
Tenho lido pouco proseado menos
Leio o que até então consigo
    Leio na medida do possível
    Mas sempre recobro além

Há em mim no meu íntimo
Uma voz que lateja
Ás vezes com ela proseio
    Mas receio dar-lhe sempre ouvido
Concordamos em algo aqui ou acolá
Sabemos que a cada linha lida
    É um livro que surge, um romance...
E o tempo - maldito tempo!
Esse finda cedo. Ainda no amanhecer

    há amigos que recobram
    leituras de autores mencionados
    em conversas de botecos, praças
    estações, pontos, seja lá onde for
    mas alguns não guardo comigo

Consigo o nome de alguns. Procuro por resenhas
Revistas, vídeos, programas. Até tenho conseguido
                                          [algo com isso
Mas sei que isso ainda é pouco
    É até risonho em saber que terei de depositar
    confiança naquela tradução. - Ah! Queria eu ter domínio
    das línguas ou que todas se resumissem só a uma

Dias atrás li algumas linhas de ceticismo
Mais tarde... epistemologia
Por meio de um amigo, cheguei em Sanches
"Nem sei se nada sei"
    - E não é?
    - O que sei?

Reencosto na mureta de minha varanda
Assisto por fim o sol quase a se perder de vista
Sócrates e Sanches e o dia indo
A noite chegando e junto a ela
    corre uma névoa rente aos meus
    olhos indo à infinda vaguidão.

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

(des)graça

O uísque tá no fim
e ainda são 23:35
há um filme para
ser visto e uma (má)
drugada sem chuva
Finda garrafa!
ela se vai como se vai
o amor. O amor se vai
na primeira hora do dia
junto aos 20 ou 30 putos
que tinha no bolso
que se dane! isso é o
raiar de um dia que
sucumbe pois a desgraça
tem de dar sua graça
e os putrefatos perambulam
desfilando sua nova veste
que a vistam e se fartam e se partam
pra puta que os pariu!

O uísque tá no fim
e agora são 23:43
Finda garrafa!