sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Vagante

Vagante

Desculpe-me, moça, por partir sem avisar-te
Sem avisar partir sem te ver
sem tocar-te, afagar-te em meu peito.
Desculpe-me, moça!

Desculpe-me, moça, por partir sem avisar-te
E ter-me na estrada, vagante
como que se tem os navios sem portos
a mercê do acaso, do improvável
do incerto, do imprestável

Desculpe-me, moça!

Sou errante, e ter-me visto noutra manhã, depreciei-me
Lacrimejei antes de partir sem avisar-te
Deixei-me sobre a lodo e desatei-me do laço:
o que vedes, povo de rua, é um cadáver apenas.

Desculpe-me, moça!

Negarei-te a resposta d`uma pergunta que não me faço;
negarei-te pois não me faço ciente da resposta que não tenho.
Negarei-te como companhia pois, nem a mim, desejo-me;
negarei-te pois apenas, nego-me.

Peço-lhe: sofro de uma dor que do peito sucumbe
E de seus lábios úmidos, trêmulos, faz-me gemer
Gemer d`uma dor que lacera-me, lacera-me e lacera-me
E desse ato, faz sereno que cá repousa trazendo-me espasmos.

Peço-lhe: - Já insisto! - Pois gemer é o que me resta
Gemer e nada mais, é válido pr`um errante
que lá se vai, sem rumo, sem causa. Então, peço-lhe:
Não me esqueça. Insisto-lhe quase mudo e já, com frio.

Não me esqueça...

Nenhum comentário:

Postar um comentário